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Em ano de COP30, como o Brasil pode consolidar sua liderança climática global?

Mesmo possuindo grandes desafios, o Brasil já ocupa uma posição de destaque na agenda ambiental global. Seja pela matriz energética majoritariamente renovável, pelo investimento em biocombustíveis, pela presença da floresta amazônica – vital para o equilíbrio climático mundial – e o fortalecimento de políticas climáticas, o país é um ator relevante no combate às mudanças climáticas. 

Agora em novembro de 2025, sediará a COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Será a primeira vez que uma COP terá realizada na Amazônia brasileira, em Belém do Pará. A escolha da cidade amazônica reforça o papel central da floresta no equilíbrio ambiental global e no combate ao aquecimento global e às mudanças climáticas, sendo mundialmente reconhecida e admirada.

 

Panorama internacional em vias da COP30

Em contrapartida, a maior potência econômica mundial e também o maior financiador, historicamente, nos esforços globais de combate às mudanças climáticas, os Estados Unidos, saiu do Acordo de Paris no início deste ano. A preocupação é que esse movimento leve a um enfraquecimento do compromisso de outros países no cumprimento das metas do acordo ou inclusive a seguirem o mesmo caminho, em um momento de emergência climática. 

 

Emergência climática marca os 10 anos do Acordo de Paris

Em 2024, o mundo ultrapassou, pela primeira vez desde o período pré-industrial, o limite de 1,5ºC no aumento médio anual da temperatura. A meta estabelecida em 2015 no Acordo de Paris, por 195 países, é manter o aquecimento, a longo prazo (ao longo de 20 anos), até no máximo 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900). 

Essa medida é considerada um limiar para minimizar os impactos mais severos das mudanças climáticas. A expectativa era que o atingimento dessa marca ocorresse entre 2024 e 2028, com base em previsões científicas. Ter ultrapassado esse limite na média anual global é um sinal crítico da aceleração das mudanças climáticas e de seus impactos na sociedade e no mundo, conforme já mencionado neste artigo.

O cenário nos aproxima, de fato, de um ponto de inflexão, gerando mudanças irreversíveis, destacando a urgência em tomar ações imediatas e ambiciosas para limitar o aquecimento global, os seus impactos, bem como fortalecer a resiliência dos sistemas naturais e humanos, a fim de evitar danos irreparáveis.

 

Onda americana anti-agenda verde, de reversão de medidas ambientais

Sob o governo recém-empossado de Donald Trump, o 2º maior emissor de gases de efeito estufa foi além da saída do Acordo de Paris. Os EUA tomaram outras medidas desfavoráveis ao clima para frear a “agenda verde”, em meio à onda de anúncios do novo governo americano desde o início do ano. 

Entre elas estão o enfraquecimento de regulações sobre emissões de gases poluentes, o fechamento de escritórios de justiça ambiental e a retirada completa de investimentos relacionados ao clima, como listado a seguir:

  • Retirada de US$ 20 bilhões em subsídios a projetos ambientais e ONGs dedicadas ao ativismo climático.
  • Cancelamento de US$ 4 bilhões ao Fundo Verde para o Clima da ONU: esses recursos eram destinados a apoiar países em desenvolvimento na transição para energia limpa e adaptação climática.
  • Suspensão de programas federais de financiamento climático: inclui cortes na USAID – a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, que financiava projetos de baixo carbono, e redução do orçamento para fundos climáticos internacionais, agora representando apenas 0,24% da renda nacional bruta dos EUA.
  • Revogação de regras climáticas, bem como incentivos para energia limpa e veículos elétricos: Trump eliminou regulamentações e subsídios que incentivavam a produção de veículos elétricos e o uso de energia limpa. Isso inclui o desmantelamento de normas que pressionavam montadoras a fabricar carros elétricos e híbridos.
  • Fechamento de escritórios de justiça ambiental: dez escritórios regionais da Agência de Proteção Ambiental (EPA), que monitoravam a poluição em comunidades vulneráveis, foram fechados. Isso afeta locais como “Cancer Alley”, na Louisiana, conhecido por altos índices de poluição e câncer.
  • Cortes na EPA: a EPA anunciou planos para reduzir sua equipe em 65%, passando de 15 mil para cerca de 5 mil funcionários, comprometendo a fiscalização ambiental.

A falta de comprometimento do governo dos EUA com a proteção ambiental e a desconsideração das comunidades afetadas pela poluição refletem uma renúncia da liderança responsável. Ao priorizar interesses econômicos de curto prazo, o governo compromete não só a saúde pública mas também a estabilidade econômica futura, desperdiçando principalmente as oportunidades de inovação. Essa postura tem implicações globais, como o desencorajamento de ações de sustentabilidade em outras nações, especialmente nos países em desenvolvimento que dependem de apoio e financiamento.

A atual onda anti-agenda verde representa um retrocesso nas políticas ambientais e uma falha em lidar com os desafios climáticos. A verdadeira liderança deve ser marcada pela visão, responsabilidade e compromisso com um futuro sustentável. 

 

Oportunidade para o Brasil fortalecer a liderança climática

Se por um lado o cenário global é preocupante, por outro, combinado com a oportunidade de ser anfitrião da COP30 e com o histórico brasileiro de atuação ambiental, abre um caminho para o Brasil despontar como líder climático. Não se trata, no entanto, de uma jornada livre de obstáculos. Há muito o que fazer e temos capacidade para tanto. 

 

O que o País precisa fazer? De forma simplificada, estas são algumas frentes importantes.

 

Priorizar o combate às mudanças climáticas 

É fundamental que o Brasil priorize o combate às mudanças climáticas em nossa agenda política e econômica. Isso significa investir em políticas e programas que reduzam as emissões de gases de efeito estufa, fortalecem a fiscalização, o combate ao desmatamento e à degradação florestal, promovam a eficiência energética e a transição para fontes de energia renovável, como a energia solar, eólica e a partir da biomassa. 

Esta priorização transcende a implementação de políticas e programas. Envolve um entendimento profundo das complexas interconexões entre o clima, a sociedade, o meio ambiente e a economia, a conscientização e a implementação de ações efetivas. Significa, com isso, fortalecer a capacidade de adaptação e mitigação das comunidades afetadas pelas mudanças climáticas, especialmente as mais vulneráveis.

 

Previsão e mitigação de eventos climáticos extremos

O agravamento dos eventos climáticos extremos é consequência do aquecimento global e das mudanças climáticas causadas pelo aumento das emissões de gases do efeito estufa. Discorremos sobre o que são e as consequências desses fenômenos neste e neste artigo, respectivamente.

Um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) revelou que as ocorrências de desastres climáticos no Brasil aumentaram 140% de 2015 a 2023. O mesmo levantamento mostrou que o País acumula um prejuízo de R$ 792,7 bilhões decorrentes de desastres ambientais no período de 1991 a 2023.

Conseguir prever com mais antecedência e ter um plano bem estruturado para prevenir e mitigar os danos desses fenômenos extremos, é estratégico e fundamental para a adaptação climática nacional e resiliência da cadeia produtiva, posicionando o Brasil como referência.

 

Planejamento coordenado e integração intersetorial

Para isso, precisamos de coordenação entre diversos setores e níveis de governo, promovendo um ambiente de colaboração, confiança e responsabilidade mútuas. Afinal, a mudança climática não afeta apenas um setor específico; ela impacta a saúde, a economia, a agricultura, o meio ambiente, a infraestrutura e outros. 

Um planejamento coordenado possibilita a análise e a integração dessas variadas dimensões, garantindo um melhor planejamento dos investimentos governamentais e a possível criação de linhas de financiamento para soluções que impactem positivamente o país. 

Em tempos de eventos climáticos extremos ou emergências ambientais, um sistema bem coordenado permite mobilizar recursos e executar ações de resposta de maneira ágil. A integração intersetorial garante que os esforços de mitigação e adaptação sejam articulados, minimizando os impactos e oferecendo respostas transformadoras que abrangem desde o socorro imediato até medidas preventivas a longo prazo.

 

Construção e manutenção de uma federação de dados

A federação de dados é crucial para construir uma base informacional robusta e colaborativa, permitindo que as ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas sejam realizadas com maior precisão, agilidade e efetividade. Essa abordagem fortalece a capacidade de planejamento e a implementação de estratégias que possam enfrentar os complexos desafios ambientais de forma integrada e sustentável. 

Trata-se da integração de informações provenientes de diversas fontes heterogêneas (como sistemas governamentais, satélites, sensores ambientais, bases de dados de monitoramento, entre outras) sem a necessidade de consolidá-las fisicamente em um único repositório. Em vez disso, utiliza mecanismos que permitem consultar e analisar esses dados de forma unificada, garantindo que as informações permaneçam atualizadas e estejam disponíveis em tempo real para os tomadores de decisão.

Com uma base de dados federada, governos, pesquisadores e gestores podem acessar informações atualizadas e confiáveis que embasam decisões estratégicas para mitigação e adaptação. Isso é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas mais acertadas, que levem em conta as variáveis ambientais e socioeconômicas de forma integrada.

A federação de dados também possibilita o acompanhamento contínuo das ações implementadas em resposta às mudanças climáticas, permitindo a avaliação de sua eficácia em tempo real. Isso facilita ajustes e correções nas estratégias, garantindo que as medidas de combate sejam dinâmicas e responsivas aos novos desafios.

Com dados integrados e de fácil acesso, há uma maior oportunidade para o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções inovadoras – como modelos preditivos, ferramentas de monitoramento e análise em tempo real – que podem aprimorar a capacidade de resposta aos desafios climáticos.

 

Investimento em pesquisa e tecnologia

Com a suspensão de programas de financiamento a projetos ambientais nos EUA, estudos de ponta, conjuntos de dados e modelos climáticos, utilizados em todo o mundo, ficarão defasados. O desenvolvimento de novas tecnologias voltadas para esse campo e que possibilitem tomadas de decisão rápidas também vai estagnar. 

Para que possamos ter os nossos próprios dados e não ficar refém das pesquisas de clima do norte global, o Brasil precisa financiar linhas de pesquisa próprias e o desenvolvimento de competências científicas, bem como uma rede de infraestrutura ampla de sensores, contemplando cada região do país.

Uma rede ampla de sensores, distribuída em diversas escalas, possibilita o monitoramento contínuo de variáveis climáticas, ambientais e sociais relevantes. Além disso, a coleta contínua de dados permite identificar tendências, anomalias e eventos extremos em tempo real, possibilitando respostas rápidas e direcionadas.

Os dados coletados pela rede de sensores alimentam modelos climáticos e ambientais, que consideram as características nacionais, tornando-os mais precisos e confiáveis. Modelos aprimorados permitem prever possíveis cenários de eventos climáticos extremos (secas, inundações, ondas de calor) com maior antecedência, possibilitando a preparação e a mitigação de seus impactos.

 

O papel do SiDi no combate às mudanças climáticas e em posicionar o Brasil como liderança global 

Como Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) brasileiro, especializado em Inteligência Artificial e comprometido com um futuro mais seguro, inteligente e inovador para toda a sociedade, nós nos preocupamos com a severidade do cenário climático global. Temos o papel de liderança nesse contexto, sendo uma ponte entre a pesquisa realizada nas universidades e a sua aplicação na sociedade. 

Isso envolve catalisar a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, interligando as pontas e promovendo soluções inovadoras por meio de parcerias. Além disso, também temos o dever de conscientizar e respaldar governos, a sociedade e as empresas, bem como fomentar conversas e colaborações entre os players para facilitar a busca e a concretização das soluções. 

Se a sua organização quer se juntar a esse movimento de combate, mitigação adaptação às mudanças climáticas, bem como aos impactos dos eventos climáticos extremos, por meio de tecnologias que auxiliem na tomada de decisão, entre em contato conosco.